Sobre Copa do Mundo e America Latina
Ontem foi um dia daqueles para os brasileiros.
Vimos a Alemanha ser desclassificada (e comemoramos por conta do não tão esquecido 7x1 da copa passada - Infelizmente, copa no Brasil nunca dá bom pra nossa seleção).
Vimos a Alemanha ser desclassificada (e comemoramos por conta do não tão esquecido 7x1 da copa passada - Infelizmente, copa no Brasil nunca dá bom pra nossa seleção).
Além disso conseguimos passar para outra fase, que será difícil (com certeza) mas que já é melhor do que o medo que sentíamos ao início do jogo de perder para Sérvia e encontrar nossos colegas alemães no Aeroporto voltando para casa.
De todo modo, algo sobre as diversas coisas que vi da Copa uma publicação me chamou a atenção. Falava sobre como estamos rumo ao Hexa mas que não estávamos rumo à diversas coisas que são falhas no nosso país. Como a venda de ações do nosso pré sal, à -cada vez maior- depredação da educação pública etc etc.
É verdade que tudo isso seria coerente se a comparação feita tivesse sido feita à Alemanha (que nos deixou tristonhos em 2014 mas está longe de ser nossa rival futebolística). A comparação estava com um outro país, muito próximo da gente chamado Argentina.
Verdade que temos essa rivalidade a anos e cada um a explica de uma forma diferente. É cultural e não há um sentido exatamente lógico para isso. Anos de estudos sobre futebol e história talvez expliquem o porquê de tanta rivalidade.
Mas vamos aos fatos. A Argentina é um país aliado do Mercosul. Enquanto a Copa começou a rolar as mulheres argentinas tiveram uma conquista imensa que foi a legalização do aborto - isso é um fato. Mas dizer que a Argentina é um país melhor do que o Brasil está bem longe da realidade.
Pelos últimos meses fui agraciada com a convivência com argentinos, chilenos, Venezuelanos e uruguaios (e nem precisei sair da minha cidade). A conquista Argentina pelo direito do aborto vem sendo debatida à anos e, por conveniência, (creio para aumentar a popularidade de Macri) ela saiu no Senado. Acompanhei o debate inteiro com uma grande amiga que hoje está em seu país de origem.
A verdade é que os rumos que o Brasil não está seguindo não está sendo seguido por nenhum outro país latino-americano.
Tem tempos que eu gostaria de falar sobre o assunto. Depois da queda dos partidos com propostas mais populares, nós, latino-americanos estamos sofrendo igual (e com o agravamento das políticas de Trump contra a imigração).
Uma vez escutei de uma chilena que "nos movimentamos em blocos" quando um país começa com uma política liberal e predatória para o povo, todos os outros países começam a fazer igual. Vale lembrar as nossas não tão queridas ditaduras que deixaram desaparecidos, mortos (inclusive estudantes do que hoje seria equivalente ao ensino médio por nada mais nada menos que lutar pelo passe livre estudantil) e dívidas com FMI que muitos países jamais conseguiram pagar.
E assim tem sido. As inflações cresceram aqui, cresceram lá, pessoas desempregadas e desesperadas em todos os locais, reformas trabalhistas que tiram direitos conquistados a grandes lutas pelos trabalhadores... Tudo isso. Essa nossa história é também a história deles.
Ano passado, nós brasileiros não nos inteiramos pois a mídia se preocupa mais com os problemas do primeiro mundo do que com os problemas dos nossos iguais. Um estudante, chamado Santiago Maldonado, desapareceu por meses ao militar em favor da causa dos Mapuche (Etnia indígena que fica entre a divisa do Chile com a Argentina). Ele, obviamente, não foi o único a desaparecer, muitos líderes indígenas desaparecem por lá também. O motivo?? Alguma empresa de primeiro mundo (que confesso não recordo o nome) quer explora-las e o governo de Macri, muito mais violento, acabou tirando a vida desse estudante - que só apareceu depois de três meses de protestos e exigências.
Isso sem contar das inúmeras lutas chilenas pela educação pública e de qualidade. Pela ajuda que o FMI deu para acabar com as escolas rurais mexicanas, deixando mais desaparecidos e mortos (tendo como maior resistência a Comuna de Oaxaca).
Digo isso tudo para dizer que não somos os únicos sem rumo nessa América Latina. É injusto dizer que o Brasil é um problema por conta do brasileiro (devemos reconhecer nossas falhas culturais sim, mas é importante entender que existem coisas maiores por ai). Que torcer pelo hexa não vai mudar nada (de fato não vai).
Nós, estamos cada vez mais presos nas garras de empresas predadoras do primeiro mundo. Somos fonte de xenofobia quando tentamos sair de nossos países para viver no "país da liberdade" e lá não somos aceitos (a cena das crianças enjauladas causou comoção geral mas representa bem o que estamos vivendo no mundo hoje).
Se havia alguma rivalidade histórica entre nós, seja no futebol ou seja na política é hora de nos unirmos pois é muita coincidência que todos estejamos sofrendo as mesmas dores. É nesses tempos, tempos de perdas de direitos, que nossos povos, nossos trabalhadores e trabalhadoras devemos nos unir. Até mesmo no futebol, no esporte e principalmente na luta.
Então, sim. Se o Brasil não me trazer o hexa eu desejo que pelo menos um país latino-americano, incluindo a Argentina o faça. Pois merecemos nem que seja um dia de felicidade e orgulho de se mostrar melhor em alguma coisa.
Beijos de luz a todos e até a próxima!!!
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